Papais e Mamães Noéis relembram Natais inesquecíveis

Arianne Lima e Mateus Ferreira

Papais e Mamães Noéis relembram Natais inesquecíveis

Para além dos presentes e festividades, o Natal é tempo de pensar no próximo. Em Santa Maria, profissionais e iniciativas buscam fazer a diferença na vida de crianças, jovens, adultos e idosos, seja a partir de uma simples conversa ou da entrega de uma cesta básica.

Nesta reportagem, conheça as histórias do casal Noel David e Jurema Tatto, Cláudio Renato da Silva e de Therezinha Borin, que dá continuidade a um projeto antigo no Bairro Itararé.

Casal Noel

Papai Noel desde 2015, David Tatto compartilha da data com a esposa, professora Jurema Tatto que também é Mamãe NoelFoto: Nathália Schneider (Diário)

Em 2015, o artesão westphalense David Tatto recebeu uma missão importante: se transformar em Papai Noel. A primeira aparição com a vestimenta do bom velhinho ocorreu em dezembro daquele ano, durante a programação de Natal de Santa Maria. Nos anos seguintes, participou de atividades e eventos em Dilermando de Aguiar, São Pedro do Sul e outros municípios da região. Aos 70 anos, Tatto reflete sobre a importância do trabalho, que já desempenha há cerca de seis anos.


– Eu gosto de dar espaço para a criança, para que ela converse e conte histórias. Normalmente, todas elas me emocionam de alguma forma. Já me emocionei muitas vezes com esse trabalho – relata ele, entre sorrisos.


A missão de levar alegria para crianças e adolescentes é compartilhada por Tatto com a esposa, a professora aposentada Jurema Tereza Marcuglia Tatto, 68, com quem é casado há mais de 35 anos.

Além de também ser Mamãe Noel, ela é responsável pela agenda, vestimenta e produção do personagem. Ao falar sobre o processo, o rosto de Jurema se ilumina. O trabalho é levado a sério para entregar o melhor ao público.


– É um ritual principalmente para arrumar e organizar a roupa. Tem que lavar, despregar toda aquela parte com pele para lavar separado e tudo é costurado à mão. Eu sempre confiro se está tudo certinho com a luva, a touca, a sineta e outros itens. Até confesso que, muitas vezes, fico tensa pela preocupação de que não falte nada – conta Jurema.


Neste ano, as contratações começaram em outubro para garantir uma data na agenda do casal Noel. Para Jurema, mesmo com toda a correria, o trabalho é recompensador:


– No último final de semana, estivemos em Nova Esperança do Sul e foi maravilhoso. Foi lindo ver aquelas crianças encantadas com o Papai Noel. Às vezes, elas alisam a barba e perguntam se é de verdade. Outras chegam e já vão se aconchegando no colo do Papai Noel, e isso nos emociona. Temos inúmeras histórias marcantes, então, fica difícil de citar a mais emocionante. Quando terminamos o trabalho e voltamos para casa, eu pergunto para ele como foi o papo com as crianças. Sempre que ele começa a me contar, se emociona e chora. E eu choro junto, porque é lindo o trabalho do David.


De carreteiro a Papai Noel

Ao se aposentar, Claudio da Silva se reinventou como Papai NoelFoto: Mateus Ferreia (Diário)

Nos corredores de um shopping em Santa Maria, o espírito natalino ganha vida todos os anos graças a um homem cuja jornada de vida é tão incrível quanto à magia que ele traz consigo. Claudio Renato da Silva, 71 anos, carrega não apenas a representação do maior símbolo do Natal, mas uma história de vida que ilumina os corações daqueles que cruzam seu caminho.


Nascido em 1º de outubro de 1952, em São Sepé, Claudio mudou-se para Santa Maria aos 13 anos. Durante 24 anos, ele percorreu as estradas do Estado transportando bebidas.

Com seu caminhão, ele viajava pela Região Central e, em algumas ocasiões, também ia para Porto Alegre.


Após uma carreira dedicada na cabine de um caminhão, Claudio decidiu se aposentar. Ao invés de repousar, escolheu se reinventar como o icônico Papai Noel. Desde então, lá se vão 15 anos que ele trocou a boina por um gorro vermelho, a cabine do caminhão por um trenó e algumas renas.


– Para mim, é muito gratificante, faz bem para a alma, para o coração, é uma alegria imensa ter o carinho de crianças e adultos. São muitos abraços que recebo nesta época do ano e sinto que são sentimentos sinceros – compartilha Silva.


Pai de um casal de filhos, Claudio destaca a importância da família em sua jornada.

– Minha família sempre foi meu alicerce. Agora, ser avô de duas netas torna o Natal ainda mais especial. É incrível ver a magia refletida nos olhos delas – diz ele com um sorriso afetuoso.


No shopping, Claudio não apenas distribui presentes, mas também compartilha histórias e risos. Sua presença é um convite para que as crianças e suas famílias acreditem na magia do Natal, um lembrete de que, independentemente da idade, todos têm um pouco de criança dentro de si.

O espírito de Natal, personificado por Claudio Renato da Silva, transcende as paredes do shopping. Ele é uma ponte entre gerações, um elo entre o passado de carreteiro e o presente mágico como Papai Noel. Seu compromisso de trazer alegria e esperança é uma lição valiosa em tempos em que o mundo precisa mais do que nunca de solidariedade e compaixão.


Tradição no Bairro Itararé

Há mais de 30 anos, projeto idealizado por Nelson Borinmescla solidariedade e espírito natalino no Bairro Itararé

Há mais de 30 anos, um projeto mescla solidariedade e espírito natalino no Bairro Itararé. Idealizado por Nelson Borin, a iniciativa busca arrecadar alimentos para a confecção de cestas básicas. O trabalho é realizado por voluntários, que vestidos de papais e mamães Noel acenam, conversam e distribuem balas para a criançada do bairro.
Nelson morreu em 18 de agosto de 2014. Em dezembro do mesmo ano, a esposa, a professora aposentada Therezinha Borin, 81 anos, assumiu a coordenação do projeto, fazendo questão de manter algumas tradições.


– Eu coordeno o trabalho, mas eu não saio vestida de Papai Noel, porque o Nelson não fazia isso. Eu perguntava o porquê e ele dizia que tinha que aparecer para as pessoas saberem que este é o grupo de Papais Noéis do Bairro Itararé. Que é um grupo com extrema credibilidade. Então, eu mantive isso e sabe que é verdade mesmo? Um dia, eu não consegui participar de uma ação e perguntaram “cadê a Therezinha?”. O pessoal se importa. As famílias aparecem na porta de casa ou na calçada, trazer um sorriso e agradecendo a nossa presença. Eu sinto que o nosso trabalho é valorizado, que em alguns lugares, além do Itararé, as pessoas gostam de receber nossa visita, de esperar com um alimento. Tem muita criança aqui no Itararé que sai para a frente das casas, abraçar os papais noéis, ganhar uma balinha – afirma.


Atualmente, a equipe de Papais e Mamães Noéis da iniciativa é composta por 10 pessoas. Segundo Therezinha, a equipe sofreu com alterações no cronograma de atividades em 2023, devido às fortes chuvas registradas em Santa Maria no início do mês. As visitas, que normalmente ocorrem em quatro dias, foram realizadas de 4 a 12 de dezembro. Os itens arrecadados foram entregues para famílias em situação de vulnerabilidade social na última quinta-feira.


Para Therezinha, a continuidade do trabalho nesses quase 10 anos orgulharia o marido:

– No final do tempo dele, ele ficou assim bem vulnerável. Teve uma fase bem difícil e eu acompanhava ele, dando cobertura no trabalho. No natal de 2013, ele participou o quanto pôde, saiu às ruas com os Papais Noéis do Itararé. Fica isso. Esse amor que ele tinha por esse trabalho. Foi isso que me fez dar continuidade, porque ele nunca pediu. Nós não tocamos neste assunto, mas eu senti que como é um trabalho importante e ele gostava muito, eu precisava.


Para o futuro, Therezinha espera que o amor pelo Natal e a solidariedade que movem a projeto continue sendo uma tradição de família:
– Eu dei continuidade e estou torcendo para que uma das minhas filhas assuma quando eu não puder mais. Eu tenho uma delas, que mora aqui comigo do lado e já participou bastante esse ano – projeta Therezinha, referindo-se à filha mais velha, Simone.
Você pode acompanhar o trabalho do grupo pelo perfil @papais.noeis.itarare no Instagram ou pela página no Facebook.

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